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A direita conseguiu amordaçar Júlio Lancellotti

dezembro 17, 2025
A direita conseguiu amordaçar Júlio Lancellotti

Moisés Mendes

O padre Júlio Lancellotti vai dar um tempo, por ordem superior, e é provável que não volte a ser o que foi até agora. A Igreja tem essas recaídas de vez em quando. É preciso gerir pressões e desconfortos internos e, como acontece nesse caso, principalmente de fora da Igreja.

Lancellotti sabe que acontece com ele o que aconteceu muitas vezes durante a ditadura com outros religiosos. Padres e freiras inconvenientes eram silenciados ou deslocados, para que se afastassem do ambiente em que exerciam algum poder pela capacidade de falar, de ouvir e de desafiar os cercos da repressão.

Padres humanistas, e não necessariamente progressistas, continuam sendo um perigo. Mesmo quando já começam a se afastar da vida religiosa ativa. Como ocorreu com Dom Pedro Casaldáliga, o bispo combativo de São Félix do Araguaia.

Dom Pedro já havia decidido se retirar, cansado e doente, no início dos anos 2000, e foi informado de que o comando da Igreja no Mato Grosso tinha um sucessor. Mas havia um problema a resolver.

Sua vida na prelazia tinha sido tão intensa e com tantos conflitos com o poder econômico, os donos de terra, os grileiros e os amigos dos ditadores, que o melhor seria que ele se mudasse para longe. Dom Pedro ficou.

Júlio Lancellotti talvez não consiga ficar. Seu superior, dom Odilo Scherer, determinou que ele deixe de transmitir missas ao vivo pela internet, saia das redes sociais e se prepare para deixar a paróquia de São Miguel Arcanjo. Lancellotti convive com os pobres da Mooca há mais de 40 anos.

Removem padres e freiras também em tempos de democracia, sempre com o argumento de que esse rodízio é permanente, mas não para todos. Há três anos, a Irmã Lourdes Dill, de Santa Maria, no centro do Rio Grande do Sul, foi enviada para Barra do Corda, no Maranhão.

A gaúcha Lourdes era líder comunitária na região e reconhecida como uma das maiores autoridades latino-americanas em economia solidária. Tem diploma de economista e especialização em movimentos sociais e democracia participativa pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atuava havia 35 anos ao lado da agricultura familiar, do cooperativismo de todas as formas de solidariedade.

Dom Leomar Antônio Brustolin, arcebispo da Arquidiocese de Santa Maria, informou a Lourdes que a freira tinha novos desafios. Deveria levar seus conhecimentos e sua liderança para uma cidade a 450 quilômetros de São Luis. Aos 70 anos. Perto da idade em que a maioria decide parar.

Dom Pedro, Lancellotti e Lourdes incomodavam e incomodam o poder econômico, político e religioso. Eles são um problema para a Igreja, mesmo quando essa Igreja assumiu a luta contra a ditadura, por não conseguir resistir a pressões externas incontornáveis.

Hoje, a Igreja dos inconvenientes tenta se adequar aos novos tempos criados pelo mundo evangélico, num ambiente em que o ultraconservadorismo é hegemônico e politicamente impositivo.

A Igreja Católica não pode ser tão desafiadora e ‘esquerdista’ como já foi, ou perde mercado. Principalmente no mundo da fé de São Paulo, sob controle político da extrema direita que se lastreia na moral e na prosperidade evangélica.

É complicado, e o bispo que dá as ordens muitas vezes está sob pressão de ordens superiores. É bem possível que Dom Odilo também esteja. Pressionam o arcebispo, que pressiona Lancellotti, que fica sem ter como reagir.

A resistência em defesa dos religiosos ganhou a força das redes sociais, que pode ser insuficiente para impedir o que já está traçado para Lancellotti, como foi incapaz de impedir que tirassem Lourdes de Santa Maria.

Lancellotti talvez não imagine sua vida fora do lugar que o abriga e onde cumpre sua missão, sempre em nome da Igreja que agora o pune, aos 77 anos, por estar cada vez mais perto do que aprendeu com um moço chamado Jesus cristo. Toda a Igreja progressista ficou idosa e indefesa.

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

PF encontra despacho em que Moro manda grampear autoridade com foro, diz site

dezembro 17, 2025
PF encontra despacho em que Moro manda grampear autoridade com foro, diz site

Prova foi encontrada durante busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde Moro atuou

A Polícia Federal (PF) encontrou um documento que comprova que o ex-juiz Sergio Moro grampeou autoridades com foro de prerrogativa de função usando delatores no Paraná. A prova foi encontrada durante busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde Moro atuou. A informação é da jornalista Daniela Lima, do UOL.

Segundo o documento, de julho de 2005, Moro exigiu que o colaborador Tony Garcia tentasse gravar “novamente” a autoridade, alegando que as gravações anteriores eram “insatisfatórias para os fins pretendidos”. O material encontrado pela PF estava nas gavetas da Vara Federal de Curitiba e traz a transcrição de escutas a desembargadores do TRF-4 e políticos com foro privilegiado.

O grampo em questão foi do do presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), Heinz Herwig. A gravação ocorreu em fevereiro de 2005. Assim como desembargadores, o presidente do Tribunal de Contas do Paraná só poderia ser investigado mediante autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Durante as buscas na 3ª Vara Federal de Curitiba, a PF apreendeu registros de gravações envolvendo desembargadores que integravam à época o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), responsável por revisar decisões da Justiça Federal no Paraná. Os magistrados só poderiam ser investigados por decisão do STJ. As escutas foram realizadas pelo advogado Sérgio Costa, colaborador da Vara.

A ordem de busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba foi expedida pelo ministro Dias Toffoli, após sucessivas solicitações do Supremo Tribunal Federal por documentos, fitas e gravações que não haviam sido encaminhados à Corte, mesmo depois da saída de Moro da magistratura. O STF apura denúncias de que delatores teriam sido usados para monitorar autoridades fora do alcance legal do então juiz, com o objetivo de pressioná-las posteriormente. Moro nega as acusações.

Atuação de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba

O ex-deputado estadual Tony Garcia, que firmou acordo de delação premiada com Moro há 21 anos após passar cerca de 30 dias preso, foi o primeiro a denunciar o caso ao STF. Entre 2004 e 2005, ele atuou por ordem de Moro realizando gravações telefônicas e ambientais, inclusive com câmeras ocultas. Os relatórios eram enviados a Moro. Parte relevante desse material, no entanto, nunca foi juntada aos autos, segundo a denúncia de Garcia, confirmada pela Polícia Federal após as buscas.

Os relatórios mencionam desembargadores do TRF-4 em situações de foro íntimo. As referências aparecem de forma genérica, como títulos de arquivos. No caso do então presidente do TCE-PR, a íntegra do áudio nunca havia sido revelada.

No áudio, revelado pela jornalista Daniela Lima, do Uol, o presidente do TCE critica a atuação de Moro. “Na verdade, ele é polícia, é promotor e é juiz”, afirma Heinz Herwig. Tony Garcia reclama do método do magistrado: “Tudo o que você fala ele diz que é mentira. Quem cair na mão desse cara está ferrado”.

“Eles estão querendo aparecer”, diz Heinz, em outro trecho.

A investigação apurava o eventual envolvimento do presidente do TCE com uma grande empresa do setor alimentício, hoje em falência. No diálogo gravado, o tema aparece de forma lateral. Autoridades com foro privilegiado voltam a ser mencionadas ao longo da conversa, o que deveria ser submetido aos tribunais superiores, o que não ocorreu.

“Considerando os termos do acordo, reputa este Juízo conveniente tentativas de reuniões, com escuta ambiental, com Roberto Bertholdo, Michel Saliba e novamente com Heinz, visto que as gravações até o momento são insatisfatórias para os fins pretendidos”, escreveu Moro, à época.

Ao Uol, Moro afirmou que a investigação em curso no STF se baseia em “relatos fantasiosos do criminoso condenado Tony Garcia”. Ele disse ainda que a colaboração ocorreu entre 2004 e 2005 e que não teve acesso aos autos atuais do inquérito, razão pela qual não poderia comentar o material.

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