Gesto de distribuir cravos vermelhos aos jovens soldados incentivou rebelião que pôs fim à ditadura em Portugal, depois de 40 anos de regime autoritário
Morreu, na última sexta-feira (15), Celeste Caeiro, mais conhecida como a “Dama dos Cravos” e símbolo da revolução que pôs fim à ditadura em Portugal, em 1974.
Nascida em 2 de maio de 1933, Celeste era uma jovem humilde que trabalhava em um restaurante quando, na manhã de 25 de abril de 1974, seu chefe pediu que os funcionários distribuíssem cravos vermelhos e brancos aos clientes, para comemorar o aniversário do estabelecimento.
Celeste, então, distribuiu cravos aos soldados que encontrava pelo caminho, colocando-os nos canos dos fuzis e nas lapelas.
Logo, o cravo vermelho se tornou símbolo da resistência de jovens oficiais, que conseguiram causar a queda do regime ditatorial, que já durava mais de 40 anos, sem derramamento de sangue.
“O momento mais lindo da nossa democracia não teria sido tão lindo sem Celeste Caeiro. Obrigado por tudo”, publicou o jornalista Hélio Carvalho nas redes sociais.
Entenda o contexto
A Revolução dos Cravos foi um golpe militar pacífico que ocorreu em 25 de abril de 1974 em Portugal, resultando na queda da ditadura do Estado Novo, que havia durado cerca de 48 anos. A revolução é chamada assim porque, durante o evento, os militares e a população usaram cravos vermelhos como símbolo de resistência e protesto. A flor foi escolhida por sua associação à paz e à mudança, uma vez que o golpe foi realizado sem violência, com o mínimo de confrontos armados.
Sob a liderança de António de Oliveira Salazar e, posteriormente, de Marcello Caetano, o regime de Estado Novo era caracterizado pela repressão política, censura à imprensa, falta de liberdades civis e uma forte presença militar nas colônias africanas, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, que estavam em guerra pela independência.
Nos anos 60 e 70, o descontentamento popular aumentou devido à prolongada guerra colonial, que resultava em muitas mortes e pesava sobre a economia do país, além de agravar a desigualdade social.
A revolução foi liderada principalmente por militares jovens pertencentes ao Movimento das Forças Armadas (MFA), que já estavam descontentes com o regime. Eles eram apoiados por diversos setores da sociedade, incluindo intelectuais, estudantes e trabalhadores. O MFA organizou o golpe de maneira discreta, e a ação foi iniciada na madrugada do dia 25 de abril, com a tomada de pontos estratégicos em Lisboa, como rádios, telecomunicações e edifícios governamentais.
Ao longo do dia, o povo se uniu aos militares nas ruas, apoiando o movimento e desarmando a repressão policial. O regime de Marcello Caetano, que estava à frente do governo, não ofereceu resistência significativa, e ele foi preso e levado para o exílio.