Criador do Dia Nacional da Consciência Negra, Oliveira Silveira

Nascido em Touro Passo, distrito de Rosário do Sul-RS, em 16 de agosto de 1941, Oliveira Ferreira da Silveira diplomou-se em Letras, tendo exercido o magistério por muitos anos em Porto Alegre. Foi um dos intelectuais afrodescendentes de maior destaque no estado onde nasceu e também a nível nacional, participando ativamente de debates, encontros e mobilizações do movimento negro. Estreou na literatura em 1962, com a publicação do volume de poemas Germinou, a que se seguiram Poemas regionais (1968), Banzo, saudade negra (1970) e mais sete outros livros de poesia publicados em vida. No período de 1971 a 1978, participou do Grupo Palmares, sendo também o mentor do estabelecimento do dia 20 de Novembro – data da morte de Zumbi dos Palmares em 1695 – como o “Dia Nacional da Consciência Negra”. Tal inserção alcançou posteriormente repercussão nacional e passou a fazer parte do calendário cívico e cultural do país, sendo, inclusive, feriado em diversas cidades brasileiras. O poeta foi também um dos fundadores na revista Tição, que cumpriu importante papel no contexto de ressurgimento do movimento negro no final da ditadura militar, além de integrante ativo do Grupo Semba de Arte Negra, sediado em Porto Alegre. Ao falar de sua relação com a escrita, o autor destaca que a literatura surgiu em sua vida quando ainda residia em Touro Passo, onde vivenciou uma infância e juventude marcadas pela poesia popular, pelos "causos", quadrinhas e versos de polca. Tais elementos viriam a constituir o substrato de seus escritos. A respeito de seu primeiro poema, publicado em 1958, no jornal de Rosário do Sul, Oliveira Silveira destaca que:

tal fato foi muito importante para o início da sua carreira, pois, a partir dos estímulos recebidos de amigos continuei a escrever poemas regionalistas, que marcam até hoje meu estilo. Não me desvinculei desta linguagem rural. Claro que depois experimentei outras tendências, até chegar à poesia negra, na medida em que me conscientizava. Esta consciência chegou bem mais tarde.

Para tanto, seu contato com a tradição da literatura negra da diáspora e de movimentos como o da Négritude de língua francesa foi de crucial importância. A conscientização a respeito da condição afrodescendente ocorre, pois, em paralelo a seu crescimento como poeta. Na universidade, Oliveira Silveira se apropria de textos fundamentais para a reflexão sobre uma escrita até então silenciada, pois confinada às margens do cânone ocidental, tais como o “Orfeu negro”, de Sartre, além dos escritos de Césaire, Senghor, e Depestre, entre outros. Para o poeta, esses escritos propiciaram "o estopim" de seu despertar: "a leitura deste material e meu envolvimento na política estudantil ampliaram meus horizontes". Tal seria, pois, o caminho a ser seguido, em consonância com o projeto de uma literatura que não apenas abordasse o negro como tema folclórico, tal como feito pelos modernistas, mas que trouxesse para a cena literária os dramas e dilemas dos “condenados da terra” em sua trajetória na sociedade brasileira, marcada pelo racismo cordial. Nesta linha, empenhou-se em traduzir para o português o Cahier d’un retour au pays natal, de Aimé Césaire, que não chegou a concluir.

Oliveira Silveira faleceu em 1º de Janeiro de 2009 aos sessenta e oito anos. Após sua morte, foram publicadas três coletâneas de seus escritos. A primeira, Poemas, de 2009, organizada e prefaciada por Oswaldo de Camargo. A segunda, Antologia poética de Oliveira Silveira, de 2010, traz estudo crítico de Luiz Horácio. E a terceira e mais completa, Oliveira Silveira: obra reunida, de 2012, fruto de cuidadosa pesquisa do também gaúcho Ronald Augusto, que inclui a tradução de Césaire e o ensaio “Oliveira Silveira, a palavra está firme - poesia reunida”, assinado pelo organizador.

Trata-se, portanto, de autor da maior relevância pois, além dos doze livros de poesia publicados, deixou inúmeros outros textos em antologias e edições coletivas, como os Cadernos Negros, entre eles a conhecida paródia do poema “Nega Fulô”, de Jorge de Lima.

PUBLICAÇÕES

Obra individual

Germinou. Porto Alegre: Ed. do Autor, 1962.

Poemas regionais. Porto Alegre: Ed. do Autor, 1968.

Banzo, saudade negra. Porto Alegre: Edição do autor, 1970.

Décima do negro peão. Porto Alegre: Edição do autor, 1974.

Praça da palavra. Porto Alegre: Ed. do Autor, 1976.

Pêlo escuro. Porto Alegre: Edição do autor, 1977.

Roteiro dos tantãs. Porto Alegre: Edição do autor, 1981.

Poema sobre Palmares. Porto Alegre: Edição do autor, 1987.

Anotações à margem. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1994.

Poemas. Seleção e prefácio de Oswaldo de Camargo. Porto Alegre: Ediçãos dos Vinte, 2009. Publicação póstuma.

Coautoria

Orixás: pinturas e poemas. 2ed. Porto Alegre: SMC/Coord. do Livro e Liter./UEPA, 2000.[série Petit POA]

_____. 1 ed. Porto Alegre: SMC/Coord. do Livro e Liter./UEPA, 2000.[série Petit POA]

Antologia

Cadernos negros 3 poesias. São Paulo: Quilombhoje, 1980.

Axé: antologia contemporânea da poesia negra brasileira. Org. Paulo Colina. São Paulo: Global, 1982.

Cadernos literários 19: poetas negros do Brasil, Edições Caravela/Instituto Cultural Português. Porto Alegre, 1983.

Razão da chama: antologia de poetas negros brasileiros. Coordenação e seleção de Oswaldo de Camargo; colaboradores: Paulo Colina e Abelardo Rodrigues, São Paulo: GRD, 1986.

Quilombo de Palavras: a literatura dos afro-descendentes. Orgs. Jônatas Conceição, Lindinalva Amaro Barbosa. 2 ed. Salvador: CEAO/UFBA, 2000.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 2, Consolidação. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

Não Ficção

A produção literária negra (1975-1985) in: ALVES, Miriam; XAVIER, Arnaldo; CUTI [Luiz Silva] (org.). Criação crioula, nu elefante branco. São Paulo: IMESP, 1987.p.31-49.

TEXTOS


CRÍTICA


FONTES DE CONSULTAS

Axé: antologia contemporânea da poesia negra brasileira. Org. Paulo Colina. São Paulo: Global, 1982.p.31-36.

BERND, Zilá. Negritude e gauchidade: Oliveira Silveira. In Negritude e literatura na América Latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.

BERND, Zilá. Oliveira Silveira. In: DUARTE, Eduardo de Assis. (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 2, Consolidação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

_____. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense, 1988.

_____. Oliveira Silveira. Brasil/Brazil, revista de Literatura Brasileira. Porto Alegre: PUCRS e Brown University, n.24, ano 13, 2000.

_____. Zumbi dos Palmares na poesia negra brasileira. In: Presença negra no RS, Cadernos Porto&Vírgula. Porto Alegre: SMC, n.11, 1994.

BERND, Z. & BAKOS, M.M. O negro, consciência e trabalho. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1991. 2. Ed. Col. Síntese rio-grandense.

FISCHER, Luiz Augusto. A foto de Oliveira. Porto Alegre: Zero Hora, 10 de jan. de 2009.

Quilombo de Palavras: a literatura dos afro-descendentes. Orgs. Jônatas Conceição, Lindinalva Amaro Barbosa. 2 ed. Salvador: CEAO/UFBA, 2000. p.157.

SANTOS, Luiz de Melo. Sons e ritmos do tantã na poética de Oliveira Silveira. (dissertação de Mestrado). Londrina: UEL, 1997.

SILVA, Jônatas Conceição da. Vozes quilombolas: uma poética brasileira. Salvador: EDUFBA; ILÊ AIYÊ, 2004.

WHITE, Steven F. A invenção de um passado sagrado na poesia afro-brasileira contemporânea. In: Estudos Afro-asiáticos, Nº 35, julho de 1999, p. 97-110.

LINKS