Até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a admitir os erros de "nós, economistas"
Os erros nas projeções econômicas do mercado financeiro têm sido bastante comuns desde o início do governo Lula (PT), e o mesmo aconteceu agora com o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, que avançou 0,9% puxado, principalmente, pelos setores de serviços e da indústria.
A realidade da economia brasileira tem se sobreposto à má vontade da Faria Lima com o governo Lula. As projeções indicavam avanço entre 0,6% e 0,8% no PIB para o período.
Quando se compara ao terceiro trimestre de 2023, a alta é de 4%, mas há desaceleração quando o PIB do período é comparado aos trimestres anteriores deste ano. Nos primeiros três meses do ano, a economia brasileira cresceu 1,1% e, no período de abril a junho, 1,4%.
Desde o início da pandemia de Covid-19, os analistas têm mostrado incapacidade de acertar as previsões de crescimento do PIB, seja nos índices anuais ou trimestrais. O caso mais gritante ocorreu logo no início do governo Lula, em janeiro de 2023. Naquela época, as projeções indicavam que o PIB cresceria entre 0,8% e 1% no ano passado, mas o resultado divulgado pelo IBGE mostrou expansão de de 3,2% da economia brasileira.
Lembrando que o dado do PIB do ano passado foi revisado de 2,9% para 3,2% pelo IBGE na terça-feira (3).
De acordo com o instituto, na divulgação dos números do terceiro trimestre é rotina realizar uma revisão mais abrangente que incorpore os novos pesos das Contas Nacionais Anuais de dois anos antes.
“A revisão de 2023 tem muito a ver com a reformulação da PMS (pesquisa mensal de serviços). Houve mudanças nos serviços profissionais e isso deu uma revisão maior do que se costuma ter”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, referindo-se à atividade com forte peso na economia.
Até Campos Neto ironizou erros nas projeções econômicas
No ano passado, até mesmo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a comentar os erros dos economistas: “Nós, economistas, erramos muito as projeções, especialmente de crescimento econômico”, e ironizou os palpites errados da categoria: “A melhor forma de levar o nome à ruína é pedir conselho de economista”.
O último Boletim Focus do Banco Central mostra que a mediana dos analistas consultados para a publicação prevê que o PIB vai crescer 3,22% este ano.
Desta vez, a mediana está mais próxima das projeções, que indicam avanço de 3,5% na economia para este ano.
Caso se confirmem as projeções econômicas de crescimento de 3,5% para 2024, o PIB acumulará alta de 6,7% nos dois primeiros anos do governo Lula
É mais do que o mercado, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, esperava, no início de 2023, para todos os quatros anos do governo. Naquele momento, as projeções do mercado financeiro sinalizavam que a economia não acumularia, nos quatro anos de Lula, crescimento acima de 6,3%.
À coluna de José Paulo Kupfer no UOL, o economista Ricardo Barboza, pesquisador associado do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas) lembra que as projeções para o desempenho da economia em 2024 têm falhado, sistematicamente, desde o primeiro trimestre.
“Previa-se expansão de 0,7% no primeiro trimestre, e deu 1,1%. Projetou-se 0,9% para o segundo trimestre, e a atividade avançou 1,4%. Agora, no terceiro trimestre, estimou-se variação de 0,8% e foi de 0,9%”, disse.
Segundo ele, os erros podem estar indicando que os analistas têm subestimado os impactos do multiplicador fiscal ao mesmo tempo em superestimam os efeitos da política monetária. “A economia está vivendo um ciclo de expansão fiscal expansionista”, resumiu o economista, constatando que, mesmo com uma política monetária restritiva, a atividade cresce com o impulso trazido pelos gastos públicos.
Banco Central também erra
Em outra coluna, José Paulo Kupfer apontou que o BC também errou feio nas projeções. Em outubro, a autoridade monetária aumentou a projeção para o crescimento da economia em 2024 para 3,2%.
A informação, inserida no RTI (Relatório Trimestral de Inflação) de setembro, mostrou uma diferença de 90 pontos percentuais em relação à previsão do RTI de junho, quando a expansão do PIB era estimada em 2,3%.
Conforme o jornalista destacou, foi um “salto duplo carpado de uma projeção para outra”, que fica ainda mais evidente quando se lembra que no RTI de março a previsão de alta do PIB para 2024 era de 1,9%, e de 1,7%, no RTI de dezembro — 150 pontos, quase o dobro, de distância do início do ano para cá.
Segundo o jornalista, vindo do Banco Central é ainda mais incompreensível e surpreendente o erro. “Presume-se que, no BC, o acesso de informações atualizadas e sua análise por técnicos competentes não sejam barreira para projeções consistentes e confiáveis”, escreveu Kupfer.