Democrata visitou a Palestina em 1977, avaliou positivamente eleições venezuelanas e defendia o fim do embargo dos Estados Unidos contra Cuba
O ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter morreu neste domingo, aos 100 anos. Ele tornou-se centenário no último dia 1º de outubro e vivia na cidade de Plains, na Geórgia, sua cidade natal, onde recebia cuidados paliativos desde fevereiro de 2023.
Antes de presidir os Estados Unidos, Carter foi governador da Geórgia pelo Partido Democrata. Durante seu mandato, para o qual foi eleito em 1971, destacou-se por políticas inclusivas e de combate à segregação racial.
Eleito presidente em 1976, Carter foi uma figura central no encerramento dos períodos ditatoriais na América Latina, ao orientar seu governo para a defesa dos direitos humanos na região. Em 1977, foi o primeiro chefe de Estado norte-americano a defender a criação de um Estado palestino.
A gestão Carter, no entanto, para os eleitores dos Estados Unidos, foi marcada pela necessidade de gerir dificuldades crescentes anteriores a sua eleição.
A crise do petróleo da primeira metade dos anos 1970 pressionava a inflação para cima e gerou um ambiente de estagnação econômica nos Estados Unidos. Carter também teve de lidar com as crises políticas internas relacionadas à derrota na Guerra do Vietnã, em 1975. Deu um passo importante no sentido de superar as tensões internas ao anistiar os desertores do Vietnã, ou seja, os jovens pacifistas que se recusavam a fazer a guerra colonial na sudeste asiático.
Durante seu governo, ocorreu o acidente da usina nuclear de Three Mile Island, até então o mais grave da história (seria superado em 1986 pelo desastre de Chernobyl, na União Soviética), e a União Soviética invadiu o Afeganistão, para apoiar o governo secular então instalado no país muçulmano. Houve um aumento na tensão entre EUA e URSS, e uma das consequências disto foi o boicote norte-americano aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980.
Revolução Iraniana e operação de resgate
Em 1979, a Revolução Iraniana escancarou as operações de inteligência e desestabilização da CIA em toda a Ásia. Agentes da CIA e funcionários da embaixada em Teerã, o centro de atuação do país na Ásia, foram feitos reféns e foi preciso uma operação militar especial para resgatá-los.
A gestão democrata foi bastante impopular, e a Carter teve de enfrentar nas prévias de seu partido Ted Kennedy, herdeiro da tradição política da família de JFK e Robert Kennedy, ambos assassinados por extremistas. Carter venceu as prévias, mas não teve forças para bater o ator e ativista conservador Ronald Reagan, que concorreu pelo Partido Republicano e se tornou um dos mais populares políticos dos EUA, apesar de sua política econômica liberal e de seu conservadorismo moral, que dificultou, entre outras coisas, o combate à epidemia de Aids nos anos 1980.
Jimmy Carter elogiou sistema eleitoral vezenuelana
Em 1982, ele lançou o Carter Center, uma organização não governamental para a promoção dos direitos humanos. Uma das atividades do Carter Center foi a de acompanhar processos eleitorais. Carter esteve na Venezuela, enquanto tinha condições de acompanhar eventos deste porte. Sua impressão do processo venezuelano era a mais positiva possível.
Desde o fim de sua gestão, Carter tornou-se, cada vez mais, uma voz progressista dentro dos Estados Unidos. Em 2002, defendeu o fim do embargo contra Cuba. Neste mesmo ano, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua atuação em diversos conflitos mundiais.
Lula elogia Carter: amante da democracia
Em suas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou Jimmy Carter. Leia a nota publicada pelo mandatário brasileiro abaixo:
“Jimmy Carter foi senador, governador da Geórgia e presidente dos Estados Unidos. Foi, acima de tudo, um amante da democracia e defensor da paz. No fim dos anos 70, pressionou a ditadura brasileira pela libertação de presos políticos. Depois, como ex-presidente, continuou militando pela promoção dos direitos humanos, pela paz e pela erradicação de doenças na África e na América Latina. Carter conseguiu a façanha de ter um trabalho como ex-presidente, ao longo de décadas, tão ou mais importante que o seu mandato na Casa Branca. Criticou ações militares unilaterais de superpotências e o uso de drones assassinos. Trabalhou junto com o Brasil na mediação de conflitos na Venezuela e na ajuda ao Haiti.
Criou o Centro Carter, uma referência mundial em democracia, direitos humanos e diálogo. Será lembrado para sempre como um nome que defendeu que a paz é a mais importante condição para o desenvolvimento. Meus sentimentos aos seus familiares, amigos, correligionários e compatriotas nesse momento de despedida.”