Investigadores devem apresentar relatório complementar com nomes até então ocultos na trama golpista e há expectativa de mais prisões
A Polícia Federal (PF) prepara um novo relatório sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil que servirá como um complemento ao documento apresentado em novembro que indiciou 40 pessoas pela trama golpista, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto.
Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, os depoimentos e materiais obtidos na operação Contragolpe, que levou o general Mário Fernandes à cadeia e desbaratou um plano no âmbito da tentativa de golpe que visava assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estão em análise e servirão de base para o novo relatório, que deve indiciar nomes até então ocultos na trama golpista.
Em entrevista ao jornal O Globo na última segunda-feira (6), Andrei Rodrigues indicou que, entre os indiciados no novo relatório a ser apresentado, deverão constar os financiadores da tentativa de golpe, entre eles o "pessoal do agronegócio" que, segundo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid em delação premiada, teria dado o dinheiro entregue por Braga Netto a militares "kid preto" para executar o plano de assassinar autoridades.
"Ainda permanecem questões que estão sendo apuradas, até em razão da Operação Contragolpe (realizada em novembro). A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise", disse Rodrigues.
"Há expectativa das pessoas de que houvesse um ou alguns grandes financiadores, mas a investigação é clara ao apontar que houve várias pessoas, algumas já presas e condenadas. Um cedeu um ônibus, outro cedeu água, outro cedeu comida... Existe essa pulverização. E agora há esse fato trazido pelo depoimento [de Mauro Cid]. Vai ser apurado exatamente de onde saiu esse valor. Mas são detalhes que não interferem no seio da investigação, que apontou cabalmente a tentativa de golpe", prosseguiu.
O diretor-geral da PF apontou, ainda, que novas prisões podem ser realizadas até o fim de janeiro, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve oferecer denúncia contra os indiciados na trama golpista e torná-los, oficialmente, réus.
"Nós não vamos perseguir nem proteger ninguém. Se houver um fato novo que atenda aos requisitos jurídicos, técnicos e legais, é possível, sim, que outras prisões ocorram. Ninguém está imune à legislação. Todos temos o mesmo sentimento de que precisamos separar as instituições daquelas pessoas que se desviaram. Inclusive, um policial federal já foi preso. Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja militar, policial, profissional liberal...", disparou Rodrigues.
Denúncia da PGR
O ano de 2025 começou e, com ele, aumentam as expectativas para uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado no Brasil entre o fim de 2022 e início de 2023.
Com isso, inicia-se a contagem regressiva para uma eventual prisão de Bolsonaro, que, após ser denunciado, será submetido a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, indicou que a denúncia deve ser apresentada ainda no início do ano. Ele abriu mão do recesso de janeiro, sinalizando urgência no caso. O ministro relator do inquérito no STF sobre a tentativa de golpe, Alexandre de Moraes, também optou por não tirar férias.
A expectativa é que Gonet analise o relatório da Polícia Federal (PF), que indiciou Bolsonaro e outras 39 pessoas, ao longo de janeiro. Assim, a denúncia contra o ex-presidente e outros envolvidos na tentativa de golpe deve ser apresentada, no máximo, em fevereiro. Isso indica que o julgamento de Bolsonaro no STF deve ocorrer ainda em 2025, abrindo caminho para uma possível prisão este ano.
Os próximos passos
O procurador-geral da República Paulo Gonet analisará o relatório de indiciamento da PF e decidirá se as provas reunidas na investigação são suficientes para apresentar uma denúncia. A partir disso, o STF avalia se aceita ou não a denúncia.
Se aceita, Bolsonaro e outros indiciados passarão à condição de réus e enfrentarão um julgamento, onde os ministros analisarão provas e argumentos de defesa e acusação. O ex-presidente é acusado, além de integrar organização criminosa, de ter cometido abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa golpe de Estado, podendo pegar até 28 anos de prisão.
Além disso, em casos excepcionais, pode haver prisão preventiva antes do julgamento, como ocorreu com o general Braga Netto. Ele foi preso preventivamente em 14 de dezembro sob a acusação de obstrução de justiça, após alegações de que tentou obter informações da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.