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Pacatuba Em Foco

domingo, 29 de maio de 2022

Petrobras privatiza refinaria no Ceará por cerca de metade do valor real

Ineep alerta para subvalorização da Lubnor, que fica em Fortaleza. Petroleiros anunciam que vão à Justiça para barrar mais uma venda de ativo público “a preço aviltado”

Por Tiago Pereira

A Petrobras anunciou nesta quarta-feira (25) a privatização da refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), no Ceará por US$ 34 milhões. O contrato foi assinado com a empresa Grepar Participações. No entanto, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), afirma que a Lubnor pode valer de US$ 62 milhões a US$ 70 milhões. Sendo assim, o preço negociado pela Petrobras representa, pelo menos, 55% do seu valor de mercado.

A avaliação levou em conta a capacidade de produção de derivados da refinaria e seus custos, com base em informações trimestrais da Petrobras desde 2019. Além disso, também considerou a variação do preço do petróleo no mercado internacional.

“Todavia, mesmo considerando variações, o Ineep não observou nenhum cenário em que o preço do ativo estivesse no valor vendido pela Petrobras”, afirmou o instituto, em nota. O Ineep destacou, ainda, que a Lubnor tem “um potencial importante de geração de caixa futura”. Nesse sentido, apontam que a refinaria estaria sendo “subvalorizada”.

FUP reage

Por sua vez, a Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT) anunciou, em nota, que vai à Justiça para barrar a venda da Lubnor. “Isso significa a entrega de mais um ativo da área de refino da estatal à iniciativa privada em meio à conjuntura de escalada dos preços dos combustíveis, da inflação e de ameaça de desabastecimento interno de derivados de petróleo”.

A FUP também afirmou que acionou a sua assessoria jurídica para, junto com o Ineep, analisar os critérios adotados pela Petrobras na definição do preço da refinaria. Nesse sentido, também devem considerar os impactos econômicos e sociais do negócio para o Ceará e o Nordeste, como um todo. Os petroleiros destacam que a Lubnor é uma das líderes nacionais na produção de asfalto e a única a produzir lubrificantes “naftênicos” de uso nobre.

Para o coordenador-geral da FUP-CUT, Deyvid Bacelar, trata-se de mais uma venda de ativo público “a preço aviltado”, e sem debate com a sociedade. “Um desmonte de patrimônio público anunciado em meio a mais uma troca no comando da companhia em apenas 40 dias. Uma decisão equivocada, com possíveis efeitos perversos para a economia e o emprego nordestinos”.

Repetição

É a terceira refinaria da Petrobras privatizada a preços subvalorizados. No início do ano passado, a Refinaria Landulfo Alves (Rlam), na Bahia, foi vendida para a Mubadala Capital, fundo de investimentos de Abhu Dhabi, por US$ 1,65 bilhão. Na ocasião, o Ineep calculou que o valor de mercado da Rlam estaria entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Ou seja, a privatização ocorreu por menos de 50% do seu valor.

Em agosto de 2021, foi a vez da refinaria Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas, ser vendida à Atem Distribuidora por 70% do seu valor. O Ineep estimou em US$ 279 milhões o seu valor de mercado. No entanto, a Petrobras fechou negócio por apenas US$ 189 milhões.

A Petrobras afirma que a participação dessas unidades vai “dinamizar” o mercado de refino no país, por supostamente promover mais competição entre os agente. Especialistas apontam que o argumento é “falacioso“, já que as refinarias da Petrobras foram estruturadas para atender a mercados regionais, e não competem entre si.

A realidade confirma a falácia da atual direção da estatal. Com a privatização da Rlam, por exemplo, a Bahia passou a ter os combustíveis mais caros do país.

PPI

A Petrobras tomou a decisão de reduzir a sua participação no setor de refino em 2016. O objetivo é priorizar a exploração e produção de petróleo do pré-sal, que conta com margem de lucro muito maior. Desde então, a estatal passou a dolarizar os preços dos combustíveis no país, com a introdução do Preço de Paridade de Importação (PPI). Somente de 2019 para cá, durante o governo Bolsonaro, os preço da gasolina e do diesel nos postos de combustíveis subiram cerca de 70% e 90%, respectivamente. Assim, enquanto os brasileiros sofrem com a alta dos combustíveis, os acionistas da estatal estão recebendo dividendos cada vez mais polpudos.

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